sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

AMBIENTE
Fitabes mostra saneamento em evolução

A falta de recursos para a área de saneamento no Brasil não é mais o principal problema a ser enfrentado pelas companhias de água e esgoto dos Estados e municípios. O desafio agora é encontrar sistemas de gestão que reduzam gastos e abram caminhos para a esperada universalização do saneamento nacional – uma meta possível daqui a vinte anos, na visão da presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Cassilda Teixeira de Carvalho.

Na abertura do 25º Congresso Bra­sileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental (Cbesa), promovido pela Abes de 20 a 25 de setembro passado, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, ela chamou a atenção para a necessidade de mudanças culturais na gestão do setor que anda defasada em relação aos avanços na canalização de recursos. “A gente ainda contrata hoje como na época do Banco Nacional da Habitação, o BNH. Europa e Estados Unidos contratam soluções, nós também precisamos focar nos resultados, no compromisso”, declarou.

Carlos Berg/Divulgação

A feira em Olinda teve mais de 230 expositores e foi bem visitada

Endossando a declaração de Cassilda, de que dinheiro não é mais o grande problema, a presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Coelho, revelou que o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, reserva R$ 40 bilhões para o saneamento no Brasil, dos quais R$ 27 bilhões foram contratados desde 2007. “É um volume superior ao que foi investido nos dez anos anteriores, estamos num novo patamar”, assegurou.

Para a presidente da Abes, os recursos foram mais substanciais nos últimos quatro anos e, aliados ao marco regulatório do saneamento instituído pela lei 11.445/07, deram ao país condições de se preparar para alcançar a universalização em apenas duas décadas. A meta ainda parece difícil quando vimos que, embora 80% da população urbana brasileira tenha água encanada, só 50% tem esgoto e, desse percentual, apenas um terço é tratado. Isso significa, segundo ela, que mais de 100 milhões de brasileiros não têm rede de esgoto e 140 milhões não possuem esgoto tratado. “As áreas mais carentes são as favelas e terrenos invadidos que ligam os problemas do saneamento aos fundiários”, diz.

O Secretário Nacional de Sa­neamento Ambiental, Leodegar da Cunha Tiscoski, representando o ministro das Cidades, Márcio Fortes, na abertura do Congresso da Abes, disse que o presidente Lula determinou, por decreto, que o biênio 2009-2010 será o do saneamento no Brasil. E, nesse sentido, o Ministério das Cidades incentiva os planos estaduais e municipais do setor com o avanço na legislação dos consórcios. “Já temos mais de 1.800 obras contratadas no Brasil com recursos do Orçamento Geral da União, contrapartidas e financiamentos a preços de mercado. Há um esforço significativo para a transformação efetiva do saneamento no país”, afirmou.

Cassilda acredita na capacidade de se construir projetos que visam essa transformação, mas defende a aplicação de recursos em planejamento e gestão a fim de evitar despesas com obras. “Muitas vezes se constrói uma estação de tratamento com perdas de água de 50%. Mas isso pode mudar com uma visão sistêmica e planejamento. É preciso mudar a cultura, os processos, porque gestão tem a ver com comportamento”, afirma, lembrando que essa evolução não ocorre com tanta rapidez quanto a tecnologia puxada pelas demandas da indústria e do consumo.

Um caminho passa pelo Prêmio Nacional de Qualidade no Saneamento (PNQS), criado pela Abes há treze anos e que, durante o 25º Congresso, ganhou um forte aliado: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e So­cial (BNDES). O banco é o patrocinador da edição especial na categoria Gestão Orientada à Universalização dos Serviços de Água e Esgotos, criada junto com a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, para incentivar as empresas de água e esgotos do país a trabalhar com ferramentas modernas de gestão. “A ideia é mostrar e premiar quem já está próximo à universalização. Pode ser desde uma pequena cidade a um Estado”, explica a presidente da Abes. Segundo ela, as empresas de abastecimento e saneamento mais adiantadas do país são as dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Ceará e da Bahia.

Para concorrer ao PNQS as companhias avaliam seus pontos fortes e fracos, geram relatórios de gestão enviados a auditores que checam as informações e emitem novos relatórios para os juízes da Abes. A seleção da edição 2009 será em outubro e os ganhadores, em dezembro, vão conhecer a política de gestão da Bélgica. “Procuramos trazer o que os países desenvolvidos têm feito”, diz Cassilda Teixeira de Carvalho.

A feira – A VIII Feira Internacional de Tecnologias de Saneamento Ambiental, a Fitabes, mostrou que a área de saneamento vem gerando bons negócios para todos os segmentos relacionados ao controle da poluição ambiental – foco das 232 empresas que participaram da feira, realizada durante o 25º Congresso da Abes, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda.

A Fitabes, anunciada como a maior do setor na América Latina, vai muito além de um espaço para as companhias estaduais de saneamento como a Compesa (PE), a Sabesp, a Copasa (MG) e a Caesb (DF) apresentarem seus estandes institucionais e principais projetos. As empresas que orbitam no universo do saneamento aproveitam a feira para exibir tecnologias como os dessalinizadores de água por osmose reversa da Perenne, de São Paulo, com fábrica instalada há dezoito anos em Feira de Santana e filial em São José dos Campos. O equipamento-padrão para dessalinização de água salobra de poço tem capacidade para tratar 400 litros por hora, o suficiente para o consumo de 200 pessoas por dia. Os equipamentos atendem principalmente as prefeituras do interior do Nordeste.

“Essa máquina é muito vendida para dessalinizar água do mar e de poços porque, além de remover sais da água, trata as águas contaminadas, retirando vírus e bactérias”, explica a gerente de marketing da Perenne, Cristiane Gazana. Com preços a partir de R$ 20 mil, as máquinas são produzidas para cada cliente, adequadas à qualidade da água que será tratada. “Trabalhamos com soluções para tratamento de água e efluentes para empresas públicas e privadas e não produzimos equipamentos que possam ser classificados como comuns. Cada um deles passa por cálculos específicos dos engenheiros da Perenne a fim de atender à demanda do cliente”, assegura a gerente.

O diretor-comercial, Jeferson Carvalho, lembra que a Perenne é responsável pela dessalinização da água do mar da Ilha de Fernando de Noronha, território de Pernambuco, onde são processados 36 mil litros (36 m³) de água do mar por hora para ser usada nas charmosas pousadas da Ilha e nas casas dos ilhéus. A partir de outubro, o governo de Pernambuco lançará uma licitação para ampliar esse volume para 48 m³/hora e a Perenne não vai deixar de concorrer.

Enquanto a Perenne traz alternativas para livrar o nordestino do carro-pipa, a finlandesa Kemira vem investindo no crescimento do mercado de saneamento com coagulantes inorgânicos em sete fábricas no Brasil, uma delas em Salvador. Mesmo sem lançamentos na Fitabes, o estande da empresa era um dos mais visitados por técnicos e gestores de companhias municipais, estaduais e privadas. “O mercado está aquecido e os investimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estimulam nossa empresa”, declarou o gerente de vendas da Kemira, Marcio Cipriani.

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