domingo, 24 de julho de 2011

As Recentes Rebeliões no Oriente Médio e a Irrefreável Revolução das Tecnologias de Comunicação

Exclusão social, miséria, alta carga de impostos, líderes políticos plenamente apartados dos anseios dos cidadãos, e um avanço vertiginoso das tecnologias de informação copiosamente infiltradas em regiões e sociedades até nem tanto tempo assim, simplesmente impermeáveis…Eis aí os condimentos do fumegante caldo de perturbações políticas que andou engrossando avassaladoramente no mundo árabe.

Tunísia, Egito, Argélia, Marrocos, Síria, Líbia, Arábia Saudita, Iêmen, Omã, e Jordânia. Todas estas, nações que abrigaram focos de protestos, em diferentes graus de contundência, num lapso de tempo muito curto – em alguns casos, simultaneamente. Em comum entre elas, além das características gerais supra mencionadas (aliás, não divergentes de boa parte da África e da América Latina), o  solene desinteresse das potências ocidentais na remoção dos respectivos tiranos do poder, seja no sentido de manter governos fortes nestas regiões, que impeçam a migração em massa para a Europa ou EUA,  seja no sentido de garantir a permanência da exploração das fontes de petróleo nos territórios árabes.
Quando o ditador da Tunísia, por exemplo ordenou a matança de dezenas de jovens que protestavam por democracia, o país não sofreu nenhuma sanção por parte das ditas potências. Foram necessárias mais algumas dezenas de mortes, e um alargamento ainda maior da fronteira de respeito aos direitos humanos para que interviessem com medidas de força na Síria e na Líbia.
Bem, há o Irã, propositalmente não relacionado antes entre as nações árabes em ebulição, por, sob certa perspectiva, constituir um caso à parte. Lá, onde “o buraco é mais embaixo”, e as forças governamentais não hesitem em abrir fogo contra quem se oponha ao regime, se por um lado seu líder supostamente eleito tenha merecido condenações severas, manifestadas imediatamente por boa parte do mundo ocidental, por outro, sequer se cogita seriamente uma resposta mais incisiva aos desmandos e atrocidades…Sim, as nações árabes do norte da África e do Oriente Médio, a despeito de muitos aspectos comuns, guardam relevantes (e não poucas) diferenças de ordem étnica, cultural, e mesmo religiosa – cumpre lembrar que os estados são uns mais, outros supra mencionadas menos seculares entre si.
Contudo, o que de fato não é diferente nestes países, bem como em quase todos os outros do planeta, é a inexistência de fronteiras virtuais…nunca é demais lembrar o caso de China, sempre mais e mais rendida ao inextensível alcance da internet, inobstante a inócuas tentativas de restrição a sites ou conteúdos. Quiçá provavelmente apenas na Coréia do Norte a blindagem contra a difusão de informações proporcionadas pela rede mundial de computadores ainda venha resistindo de forma mais robusta que em outros países onde a liberdade constitui artigo de luxo. Mas a experiência vem sugerindo que a rendição incondicional é meramente uma questão de tempo. Pouco tempo, é bom que se diga.
No caso dos recentes conflitos em questão, ficou patente  influência da internet no curso dos eventos – evidentemente, ela por si só, não acendeu o estopim, já que o pavio vinha queimando desde longe, pela desídia dos governantes e as condições aviltantes de vida em sociedade a que eram submetidos os cidadãos. Mas é inconteste o papel das modernas tecnologias de difusão da informação na organização dos protestos e cooptação de aderentes; na divulgação das conseqüências, e por conseguinte, no alastramento dos focos de rebelião, já que indubitavelmente a notícia de tais episódios, e um eventual caso de êxito, constituem combustíveis naturais e extremamente voláteis para  a propagação das manifestações.
Segundo se apurou, a coordenação dos protestos se deu em todos os casos, através das redes sociais da internet, mormente pela juventude de classe pobre e média, com parte significativa da “imprensa de situação” classificando-os como atos de violência perpetrados pelo fundamentalismo islâmico…Bem, se de fato, o que virá depois disso servirá realmente aos interesses de radicais islâmicos, ou outra categoria qualquer de déspotas cruéis; se isto afetará mais ou menos às pretensões econômicas das potências industrializadas do ocidente; ou, se de fato todo o sangue vertido nestes episódios  lavrará uma nova era de liberdade e dignidade social para os cidadãos dos respectivos países  (hipótese lamentavelmente mais ideal que provável); Nada disso é indiscutível. O que não se discute é o fato perene, de que, nestes tempos em que qualquer um, no recesso do seu quarto, pode ser articulista de idéias que afetam tanto à sua comunidade, quanto outras situadas quiçá do outro lado do planeta; em que qualquer um com um aparelho celular pode ser o repórter de sua própria realidade, captando um flagrante e difundido-o (com resenha) em segundos pelo mundo todo; nestes tempos, a vida ditaduras de fato ou “de direito” é muito mais espinhosa que em tempos idos, fazendo-se necessário um dispêndio incomensuravelmente maior de energia (na forma de exércitos e munições) apenas para que modernos senhores feudais mantenham os servos sob cabresto.

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